Todos os anos visito a tua última
morada no dia que fazes anos e te ofereço uma rosa vermelha. Coloco-a na cruz
gravada ao centro da tua sepultura intencionalmente para sentires a sua
fragância e de me sentires perto de ti. Não me esqueci de ti nem só me lembro
nesse dia. Tu mais que ninguém sabes a falta que me fazes. Perdi-te e ainda era
uma menina com o coração cheio de sonhos por realizar, o músculo mais difícil
de treinar estava como um estendal repleto de molas com pequenos papéis
representando grandes sonhos. Alguns deles já concretizei e sei que tu sorriste
e me abraçaste em pensamento quando consegui.
Aprendi que a minha vida só será feliz se
tiver objetivos elevadíssimos por alcançar. Tu ensinaste-me a ser assim, uma
alma de pássaro, livre e sonhadora e a colocar no ninho só o que é importante
de preservar. Não me irei lamentar por há muito não te escrever, sabes que
apesar de me ser intitulado “dom da palavra” a minha escrita torna-se supérflua
para expressar a saudade que tenho de ti. Todos os dias quando abro e fecho os
olhos para viajar para o mundo dos sonhos, visualizo a tua fotografia que está
pregada na parede do meu quarto. Sabes, meu querido e eterno padrinho,
finalmente (passados tantos anos!), consegui convencer a minha mãe a pintar a
parede do quarto de azul-bebé, desde esse momento que te sinto mais perto, é
como se tocasse todos os dias o céu e sentisse que a tua estrela-guia está
sempre comigo para onde quer que vá. Gosto quando estou sozinha e coloco o som
das colunas no volume máximo e canto. Canto para ti. São pequenos gestos que me
abraçavam a alma na infância e continuam. É como idealizasse um palco e
canta-se para ti. É uma sensação bizarra mas em simultâneo reconfortante, é
como a minha voz chega-se até ti. Arrepio-me. Gosto de visitar a tua sepultura
de granito, mas confesso que evito. Contigo aprendi que as pessoas podem partir
e desvanecer a sua imagem física e palpável mas que a presença e o coração
ficaram sempre connosco. Sei que é o laço de amor que nos une, bem mais forte
de que como de família de sangue se trata-se.
Só passados oito anos tive
coragem de limpar a tua campa. Magoa-me ver o estado da pedra fruto da
naturalidade da erosão do tempo mas distanciava-me do dia, desse momento.
Finalmente fui o que me ensinaste a ser e ouvindo o sussurro imaginário da tua
voz, as minhas mãos automaticamente apanharam num balde e num pano e limpou a
tua sepultura simples e bonita como era o teu carácter. Senti uma sensação
indescritível e tão, tão sentida. Senti um arrepio profundo, intenso e
incontrolável desde a ponta dos pés até inúmeros fios de cabelo. As lágrimas
caíram sob a limpeza já efetuada. Há muito que não chorava por ti no sítio que
te vi dormir pela última vez. O sol estava forte e apesar de me encadear muito
com a sua luz, não foi por isso que os meus olhos espelharam uma nuvem de
saudade e uma consequente precipitação. O ser humano habitua-se a presenças e
ausências. O que mais me engoda a alma é saber que pese embora sinta sempre a
tua ausência sei que estás sempre presente na minha vida a cada passo que dou.
Senti naquele arrepio uma forma de conduta de agradecimento da tua parte foi
como dissesses “eu estou aqui, não te esqueci, Laura! Não te esqueças de mim.”
Embora me entristeça se um dia subir ao altar vestida de noiva tal como sempre
idealizei, estou consciente de que não serei acompanhada de braço-dado por ti
mas sei que ai de cima tu olharás sempre, sempre por mim e me ajudarás sempre a
escolher o melhor trilho para percorrer.
Existe eternidade porque as
pessoas só morrem no nosso peito quando as esquecemos e matamos a sua imagem.
Tu és eterno em mim.
Para sempre,
A tua afilhada de nome e coração,
Laura
Não tenho palavras para expressar a qualidade elevada deste texto! Muitos Parabéns! Assinado jorge
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