O que é que pesa mais no mundo? Teoricamente é a
balança, mas na prática, é a consciência (de alguns). Ninguém adormece num sono
profundo com a alma em turbulência. Podem passar semanas, meses e até anos, mas
nunca terão o prazer de viajar no mundo dos sonhos com o coração sereno. Há
momentos na vida que tens que te afastar dessas nuvens-cinzas, caso contrário,
nunca conseguirás alcançar o arco-íris da tua vida. Por muito que doa, não te
pode fazer perder o sono nem dispensar a tua energia. A pior morte é aquela que
ocorre em vida, seja ela de ti, de alguém para ti ou simplesmente da vida. A
saudade mais crucial é talvez aquela que vive prisioneira de momentos que nunca
se vivenciaram, é um querer diferente e continuar tudo tão distante. Aprendi que
há presenças que oprimem e ausências que te permitem voar.
A consciência pesada é uma resposta daquilo que não
controlas, ou talvez, daquilo que não soubeste como agir em determinado momento,
talvez por falta de alicerces no que concerne aos ideais de família e de amor. Não
se nasce mulher, torna-se uma tal como não se nasce pai, aprende-se a sê-lo, a
senti-lo e não apenas a dizê-lo. Laços de família não são mais que a genética implícita,
o ADN que corre nas veias, porque o mais importante, são as pessoas que estão presentes.
Um fim de um casamento, não é uma separação entre as sementes desse fruto. Os anos
passam, as pessoas mudam. E o que fica? Memórias recalcadas, sonhos traídos e
esperança num futuro melhor.
Não guardo mágoas em relação a ti, não consegues
compreender a minha decisão e cobras-me pela tua atenção, mas talvez um dia
quando fores velhinho, percebas que a cumplicidade, o amor, nasce genuinamente,
não se impõe. E quiçá consigas alcançar o quanto fizeste falta na infância, na
adolescência e ainda hoje. Se algum dia subir ao altar, não é a tua mão que
quero agarrar. Perdoa-me pela escolha, pelas minhas decisões, mas fico-te grata
ainda assim, porque indiretamente contribuíste para ser tudo aquilo que sou. Devo-te
a ti a paixão pelos tesouros da história, pelo contato pela natureza, pela escrita.
Mas faltaste e muito. Não soubeste o que era comprar-me um lápis, fazer os tpc’s
comigo, e hoje dizes que tens muito orgulho na filha doutora que tens. Agradeço
as palavras mas continuo a mesma menina que não viste crescer por falta de
tempo, vontade ou por não saber como fazê-lo. Quando queremos, conseguimos. Quando
precisamos de ver, vamos ao seu encontro.
Não é um SMS num dia, uma chamada numa semana, que
altera uma longa história, de uma vida toda.